Eu...

Os diamantes são indestrutíveis?
Mais é meu amor.
O mar é imenso?
Meu amor é maior,
mais belo sem ornamentos do que um campo de flores.
Mais triste do que a morte,
mais desesperançado do que a onda batendo no rochedo,
mais tenaz que o rochedo.
Ama e nem sabe mais o que ama.
(Adélia Prado)

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Fala sério DANUZA LEÃO!

Tive a triste oportunidade de ler o artigo de Danuza Leão, colunista do jornal Folha de São Paulo, e senti um mix de sentimentos que variaram desde a indignação até a vergonha alheia. O texto é intitulado FALA SÉRIO LULA!, onde ela faz uma crônica sobre as bodas de pérolas do então presidente Lula e sua esposa e então primeira dama Marisa Letícia, ocorrido em 13/06/2004.


A festa foi temática, inspirado nas festas juninas brasileiras. Talvez a época da festa fosse a inspiração para tal criatividade na celebração. Esta que vos escreve, na época em que se deu o evento, achou muito inusitada a idéia, ainda mais se tratando de um presidente da república. Um show de simplicidade e brasilidade, muito típicas da pessoa Luiz Inacio da Silva, brasileiro, nordestino e um homem de origem popular. Alguns detalhes meu caro leitor poderá acompanhar no link do portal terra, que coloco abaixo:

http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI324291-EI1194,00-Cerimonia+tipica+marca+bodas+de+perola+de+Lula+e+Marisa.html

O que mais me chamou a atenção na referida festa foi um simplicidade com toques de brasilidade e uma atmosfera de proximidade e desprendimento entre os presentes. Quem duvida de que seja extremamente prazeroso estar em uma festa onde os protocolos, regras de conduta e estilo e cerimoniais estão distantes? Quem pode afirmar que não é mais agradável você poder se comportar de forma livre e despojada? Acredito que a maioria dos que agora me lêem concorde... (se não concordar, se preferir os protocolos, cerimoniais e outras baboseiras, tudo bem... não vamos brigar por causa disso. Respeitar a vontade e as preferências do outro é o que nos diferencia dos demais "animais irracionais").

Anos passados, em atividade no meio acadêmico, eis que surge a imagem de meu professor da disciplina Comunicação Oral e Escrita, nos requisitando a leitura do referido texto. Embora de principio ele não nos tenha adiantado nada sobre as idéias da senhôura supracitada, algo em sua entonação de voz me suscitou a idéia de um "quê" de crítica, mas NUNCA, JAMAIS, EM TEMPO ALGUM faria eu idéia do imenso despautério que iria ler estes "olhos que a terra há de comer".



Logo no primeiro parágrafo, a distinta senhôura (a quem esta que vos escreve não reconhece como NADA na crônica...) faz um verdadeiro DESAGRAVO a mais profunda e antiga expressão popular do nosso país! "Caipirada" Sra. Danuza??? Que feio... Todos do interior da (deliciosa e bucólica) Minas Gerais devem ter ficado muito tristes com esse PÉSSIMO começo de suas mal fadadas palavras! Seria um trauma de infância? Ou mal de amor que motivou tamanho azedume? Acredito que só Freud explica.

No segundo parágrafo, a colunista dá uma verdadeira "aula" de preconceito, de etnocentrismo com toques de "achismo" e sensacionalismo, este ultimo a mola mestra de quem deseja ardentemente vender jornais ou simplesmente a sua mensagem. Quem informou a Senhôura Danuza que as pessoas CONVIDADAS à festa eram OBRIGADAS a se "fantasiar" de caipiras, como se Lula tivesse a real e deliberada intenção de fazer a todos de palhaços? Quanta pretensão junta em uma só pessoa... Enganar? Enganar o quê, quem Sra. Danuza? Sinceramente não entendi!

Terceiro parágrafo... mais preconceito, mais pré-julgamentos, mais etnocentrismo.... (Gzuiz, apaga a luz e me segura!)


O quarto parágrafo inevitavelmente me conduziu a uma cena a nós, pobres mortais e muito aquém ao mundo glamoroso, "PHINO", "XICKY" e purpurinado de Lady Danuza, onde podemos ver duas velhinhas fuxiqueiras na festa, falando mal da roupa de fulana, criticando a postura do(a) anfitrião(ã), botando defeito no bufet, salgadinhos e docinhos e fazendo fofocas diversas. QUEM NUNCA CONHECEU ALGUÉM ASSIM, QUE ATIRE O PRIMEIRO TÍTULO DE NOBREZA! Há de a Sra. Danuza entender que ela faz parte de uma massa pequena e privilegiada da sociedade e que não é a maioria: essa maioria de nossa pirâmide social é justamente de pessoas com vestidinhos floridos e camisas xadrez remendadinhas... classe DE ONDE INCLUSIVE O NOSSO (hoje) EX-PRESIDENTE JÁ FEZ PARTE, mas que, mesmo tendo sido elevado a níveis mais altos econômica e socialmente, se mantêm fiel as suas origens.

EM TEMPO: Não sou partidária de nenhuma instituição política, partido político ou pessoa pública, mas sou partidária de uma coisa chamada BOM SENSO. Sendo o Lula, a Dilma, o FHC, o Sarney, ou seja, lá que figura política for, eu creio que cada um é livre pra fazer da sua vida (e das suas festas) o que bem entender! Afinal de contas, ONDE ESTÁ ESCRITO QUE QUEM CHEGA A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA NÃO PODE FAZER UMA COMEMORAÇÃO TIPICAMENTE BRASILEIRA E "DE POBRE"? (aguardarei ansiosamente a Sra. Danuza responder a minha pergunta, dentro dos dispositivos de lei, regras do Itamaraty ou dos "títulos de nobreza", hahaha)

O quinto parágrafo fala dos famosos e tradicionais pratinhos de doce, prática comum em festas do gênero. MEUDEUSODOCÉÉÉÉÉUUUUUU!!!!! Que mal a distinta senhôura viu nissoooooo?????? Será que os nobres políticos, parlamentares e membros dos ministérios não podem participar de tal "ultraje" (que não é o À RIGOR)??? Outro crime contra a economia do High Society levar prato de docinhos pra festa do presidente??? Ou será que os docinhos e salgadinhos levados pelos convidados estavam aquém de tão sofisticado paladar da distinta senhôura??? Esperaria ela trufas inglesas, tâmaras egípcias, canapés franceses? Hellloooowwwww!!!!! Brasil é assim mesmo Dona! É muita cocada, cajuzinho, bolinha de queijo, coxinhas... (síndrome de "Caco Antibes" talvez?)

O sexto e último parágrafo me abstenho de comentar... apenas que a distinta senhôura deve ter ido curar-se do trauma no Principado de Mônaco ou na Côte D'Azur. E se ficasse por lá, seus comentários etnocêntricos, preconceituosos e inconvenientes não fariam a menor falta pra nós, pobres e reles mortais que curtem a cultura popular desse nosso imenso e heterogêneo país.

Segue o referido texto na íntegra. Tirem suas conclusões. O espaço aqui é democrático e acata qualquer ponto de vista, independente de raça, credo, posição econômica. DIVIRTAM-SE!!! (ou não):


FALA SÉRIO, LULA!

por Danuza Leão

“Com todo o respeito: a idéia de comemorar as bodas de pérola com uma festa caipira não podia ter sido pior. O Brasil tem tantos regionalismos bacanas, uma culinária riquíssima, várias maneiras de ser cheias de ginga e charme que deslumbram o mundo inteiro, e o presidente e dona Marisa Letícia vão escolher logo uma caipirada dessas?

Foi um desastre desde o começo: o tema da festa, o carro de boi chegando cheio de paçoca e cachaça, o autoritarismo de obrigar os convidados e suas respectivas esposas a vestir o traje típico, e ainda pedir que levassem um pratinho de doces ou salgados. Quem eles acham que estão enganando na hora em que a assessoria de imprensa da Presidência da República anuncia que o presidente ajudou a pendurar as bandeirinhas do arraiá? Oh, mas que almas tão genuinamente brasileiras? Socorro, Duda Mendonça.

Alguns mais sensatos não pagaram o mico de usar aquele chapeuzinho de Jeca Tatu, mas é difícil dizer não ao presidente. Como estamos num Estado quase totalitário, a imprensa foi proibida de cobrir o acontecimento, o que nos leva a pensar: terá algum ministro pintado um dentinho e um bigodinho com carvão, como é de praxe? O vice-presidente, talvez?

Um país que quer tanto ser moderno poderia ter se inspirado em qualquer outro folclore que não o do atraso, o da jequice explícita. Quem não se lembra do personagem Jeca Tatu, cheio de lombrigas, personificando um Brasil de que lembramos com carinho, mas que não é exatamente a imagem a ser exportada para os grandes estadistas do mundo com quem Lula gosta tanto de conviver de igual para igual?

Não há uma mulher que se realce num vestidinho caipira; não existe imagem masculina que resista a uma camisinha xadrez remendada e uma costeleta postiça. E essa história das despesas da festa serem divididas? Foi um vexame atrás do outro, em nome de uma economia sem sentido, tipo me engana que eu gosto. Então é preciso que alguns empresários rachem a reforma das goteiras do Palácio da Alvorada para mostrar o quanto são parcimoniosas as despesas da Presidência?

E essa de levar um pratinho de doces eu não ouvia falar desde que tinha dez anos, morava no interior e era pobre. Se investigassem mesmo o affair Waldomiro, sairia bem mais barato. A gente temia que fosse acontecer esse tipo de coisa; até agora foi refresco, mas agora eles pegaram pesado.

Olhem bem a foto para não perder nenhum detalhe: a margarida no bolso de Lula, o chapéu de palha desfiado, as trancinhas e as pintinhas feitas a lápis no rosto de dona Marisa. Pior, impossível. Sempre se soube que a saudade de Fernando Henrique e dona Ruth Cardoso ia ser grande, mas não dava para imaginar que fosse ser tão grande. O arraiá foi de uma breguice difícil de ser superada, mas não vamos perder as esperanças: até o fim do mandato eles talvez consigam."



Colaborou com estas linhas CRISTIANO MEDEIROS - colega de trabalho. (VLW Cris!)

Um comentário:

Janete disse...

Acho que Danuza está questionando o fato de o tipo de festa escolhido não se adequar mais ao nível a que Lula alçou. Em arte e filosofia, e Danuza tem muito conhecimento desses assuntos, pois foi pobre e se tornou culta, este acontecimento se chama de "simulacro". É quando uma coisa quer parecer outra, fugindo da realidade a que pertence. Quando vemos algo estranho devemos nos perguntar : oque é? o que pretende ser ? o que parece ser ? se a resposta às 3 perguntas não for igual trata-se de um simulacro. Uma farsa que está escondendo algo que não se pode ou não se quer mostrar. Lula tinha muita coisa para encobrir, hoje já se sabe disso. Estava cercado de maus carateres. Acho que Danuza captou bem a intenção por detrás do evento.
Abraço
janete